terça-feira, 9 de janeiro de 2018

A CASA DAS MÍNIS PIZZAS

A CASA DAS MINI PIZZAS

Há alguns anos atrás, quando do início da minha faculdade de Direito, coincidentemente a empresa que meu pai havia aberto, na esperança de dias melhores de trabalho, foi à falência, e a única maneira foi fechar as portas.
Para tentar custear minha faculdade, tentei arrumar emprego, porém era uma época muito complicada, o mercado não ia bem e o índice de desemprego era alto. No dia em que fechamos as portas da loja, ficamos pensando o que iriamos fazer. Meu pai e minha mãe trabalhavam somente na loja, a qual era nosso único sustento.
Foi quando lembramos que na outra cidade que moramos, fazíamos mini pizzas congeladas. O empreendimento era bom, porém tivemos que fechar as portas por problemas com funcionários.
Com a ideia na cabeça, eu e minha mãe traçamos os planos para o inicio do empreendimento. Fizemos uma lista do que precisávamos: um forno industrial, um freezer, uma mesa de para trabalho, um cilindro para massa e alguns utensílios como potes e vasilhas.
Começamos a vasculhar as lojas de móveis usados e achamos um freezer, bem judiado pelo tempo, mas já era o suficiente. Porém não achávamos o forno. A saída foi comprar de forma parcelada um forno novo pequeno. Com ajuda de alguns amigos que trabalhavam com serralherias, obtivemos as formas para o forno e uma mesa que foi envolta de alumínio.
Com tudo que imaginávamos necessário a produção começou. Sovávamos a massa a mão, após isso ela ficava algumas horas em descanso até ganhar corpo. Depois disso pegávamos a massa em pequenas porções e passávamos no cilindro manual, trabalho que era feito sempre em duas pessoas. Cortávamos a massa com um pode redondo e assim as esferas de pizza iam ao forno por alguns minutos.
Após tados as esferas assadas, começamos o procedimento de recheio. O molho era um industrial, escolhido pelo melhor sabor, o queijo era ralado num processador que tínhamos em casa mesmo, e depois ganhava um pouco de orégano. A calabresa e o presunto também eram triturados no processador e depois misturados ao queijo. Já o frango era cozido e depois triturado também. Existia também o sabor de atum, que era comprado ralado em lata. Me recordo que o caldo do cozimento do frango sempre virava algum ingrediente para nosso almoço ou janta.
Após passar o molho e colocar o recheio, as minis pizzas eram embaladas em sacos plásticos e lacradas com uma maquina que ganhamos de um amigo. Depois iam para o congelador.
Tomado pelo espírito empreendedor, fiz uma logo e crie o nome: – “Lelos mini pizzas”. Fiz alguns ímãs de geladeiras e alguns panfletos. Com a ajuda de alguns amigos as vendas começaram. Na época vendíamos 10 minis pizzas por R$ 10,00 (dez reais). E assim o empreendimento foi indo.
Um amigo que vendia queijo nas feiras da cidade cedeu um espaço para a venda das minis pizzas. Eu levava um forno elétrico pequeno, para fazer algumas degustações, e com um isopor vendia as minis pizzas e aproveitava para entregar alguns panfletos.
Com o dinheiro da venda que entrava comprávamos mais ingredientes para a produção e o que restava ajudava a pagar contas e colocar comida na mesa de casa.
Por problemas familiares perdemos um carro que havia sido emprestado por conta de herança. Com um pouco de dinheiro que ainda sobrará compramos uma motocicleta, uma Honda Dream 100CC, a qual foi fundamental para a continuidade do empreendimento além do meu transporte e da minha irmã para a faculdade.
Com a moto eu ia ao mercado fazer as compras. Voltava sempre com uma caixa atrás e na frente no lugar onde havia uma cestinha, além de um monte de sacola no guidão. Assim também eram as entregas, com caixas de isopor e sacolas térmicas.
Alguns amigos indicavam clientes, esses indicavam outros, e por indicações começamos a distribuir em cantinas de escolas, onde as vendas eram maiores, o que tomava ainda mais tempo na produção. Neste período minha mãe passou em um concurso público, minha irmã arrumou um emprego e eu ganhei uma bolsa na faculdade, a qual em troca tinha que trabalhar na instituição. Assim restávamos os finais de semana para produzir as pizzas.
Foram cinco longos e bons anos, fazendo pizzas aos finais de semana e vendendo durante toda semana. Eu vendia para amigos, professores, servidores públicos e juízes. Com a venda dessas minis pizzas, conseguimos pagar contas, colocar comida na mesa de casa, e, eu e minha irmã conseguimos ter uma graduação superior.
Quando me formei e comecei a advogar, o tempo era cada vez mais escasso, todos em casa trabalhavam e decidimos parar com a produção. Durante muito tempo clientes e amigos sempre perguntaram sobre as pizzas, elogiando nosso trabalho e nosso produto. Recentemente no curso Empretec do Sebrae fiz as pizzas novamente.
Conto essa história com muito orgulho. Foram anos de abdicações, porém de muito trabalho e dedicação. Sempre acreditei que as pessoas são capazes de qualquer coisa, desde que corram, de modo honesto e ético, em busca de seus sonhos.
O mundo está repleto de histórias como a minha, de pessoas que conseguiram reverter suas vidas, saírem de situações difíceis e transforma-las em grandes conquistas. Basta acreditar que é possível, traçar planos e trabalhar com muita vontade, que tudo é possível. Como dizem: - o céu é o limite!

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